terça-feira, 28 de dezembro de 2010

American way

Um dia desses deu um up!
E foi dar um grau na aparência
Pagou seiscentos num Nike,
em seis de cento e cinquenta,

Depois comprou um ray ban
bem louco, mas piratão,
um brinco, e um jaco de lã,
e no braço tatuou um falcão,

O celular está ultrapassado,
mas tem rádio, TV, internet
e pra não ficar desconsiderado
Já comprou MP3, MP5, MP7,

Na garagem, um carrão zerado:
direção , Trava, air bag,
luz negra e ar condicionado,
Cd player, insufilme, liga-leve.

A TV tava perfeita- analógica!-
“mas a outra é tão fininha!”...............
Inda por cima não tem lógica,
o vizinho – pé rapado - já a tinha...

Os dentes tão podres, não se engana,
a saúde não vai bem já se ganha,
mas todo final de semana
tem uísque, cerveja, picanha.

Noutro dia esqueceu do aluguel,
da luz, da água, do telefone,
aí resolveu pegar um empréstimo,
foi à loja, e limpou o seu nome,

Ali comprou uma TV [última geração],
“tem tudo, a bichinha, a danada
USB, HDMI, PC...”
já viu a novela em 47 polegadas...

O problema é que na cena do beijo
pegou num sono profundo,
e sonhou que as prestações malvadas
tinham dominado o mundo...

Acordou desesperado- Que sonho!!-
Depois desse dia se atormentou,
fez tantas horas extras no trampo,
que nem ligar a bichinha ligou,

Mas pra que TV se ele tem um
Matsushita: 'P905i', novinho...
Comprou c'um chinês na galeria
Inda ganhou uma garrafa de vinho...

Tomou tudo, logo pra esquecer,
e de quebra bateu seu Sapão,
quebrou a luz negra e o pisca,
da Toyota de um alemão...

Arrumou o dele e o seu,
tava louco, bêbado e zicado,
mas, tem nada não, no trabalho,
O patrão adiantou-lhe o ordenado...

…...............................................

Nesses dias a mulher reclamou
de uns enjoos colaterais,
foi à farmácia comprar um Dramin,
e o cartão recusou seis reais,

Mas o caso não remediou
é o sexto que vem nessa terra,
já falou pra mulher se operar,
pelo SUS no hospital de Itaquera.


Anderson Porto Velho

domingo, 12 de setembro de 2010

Redação

Hoje a professora colocou eu o Danilo e o Bruno pra fora da sala, mas eu não fiz nada, depois ela mandou a gente fazer uma redação... eu acho que foi bom porque agora eu posso explicar o que aconteceu...

Querida professora,
"Eu tava conversando com o Danilo e o Bruno porque nós descobrimos que as suas aulas são muito legais, o Danilo me falou que quando a senhora ensinou aquele negócio de sujeito ele descobriu um montão de coisas. Ele descobriu que o pai dele é um sujeito oculto porque ele nunca tá em casa pra ajudar o Danilo na lição de casa. O Danilo também descobriu que a mãe dele é uma sujeita determinada – eu sei que não é bem assim que a senhora explicou, mas ele é quem me disso isso- a mãe faz todas as ações da casa e ainda trabalha for pra ajudar o pai do Danilo, parece mesmo determinada, já o irmãozinho dele é um sujeito inexistente, porque ainda tá na barriga da mãe dele, essa foi eu quem falei pra ele.
Já o Bruno tava me contando que quando aprendeu a descrever as coisas nas redações dele pôde achincalhar a sua irmã mais velha sem ela entender direito, porque a irmã mais velha do Bruno e muito chata mesmo, só fala em um tal de ficar e vive no pé do meu amigo e não deixa ele ficar no computador. E quando a senhora chamou a nossa atenção eu tava dizendo pra eles o que eu tinha aprendido e o quanto eu gostava da senhora, porque tudo que eu tô escrevendo aqui eu aprendi com a senhora”
Carlinhos
Anderson Ferreira
poeta, músico e compositor

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Memórias

Não dá para evitar o desafeto que tive de meus professores e professoras, tanto isso é verdade que pouco me lembro deles. Sumiu-me da memória seus semblantes, seus sorrisos, seus mau humores. Mas, sei que algo foi feito por mim. Entrei analfabeto aos sete anos na escola e quando percebi já lia e escrevia, embora tenha percebido isso bem mais tarde. No entanto, o tipo de infância que tive, ajudou-me muito em não recalcar nada disso, pois vivendo sempre partindo dos lugares, nunca fincamos raiz em nenhum deles, e esse fato talvez possa ter contribuído para que eu não estendesse meu coração aos meus professores(as) e aquele desafeto que citei, não significa mágoa, mas seria, simplesmente, uma ausência de afeto.
Mudávamos muito de aluguel a aluguel, de bairro a bairro, cidade a cidade, assim cheguei certa vez a estudar em três escolas em apenas um ano letivo. Da infância lembro-me bem, da rua, dos campinhos de futebol, do cemitério onde íamos frequentemente brincar “com os mortos”, da feira onde eu entregava panfletos e carregava sacolas das senhoras a fim de ganhar uns trocados, da estação de rede elétrica onde ficávamos subindo em enormes árvores, da casa abandonada que nos dava deliciosas goiabas, da menina em frente com seus olhos doces e cabelo solto. Disso me lembro bem, depois foram tantos lugares até chegar à periferia de Guarulhos onde em plena infância minha Infância se dilacerou na violência do lugar, e, para sobreviver, tive que me ferir de raiva e rancor com o mundo.
Mas daí talvez surja um divisor de águas.
Da primeira fase na Vila Formosa, minha infância foi bem mais sadia, embora, como disse, não me venha- clara e distintamente- na memória a companhia de algum mestre, exceto um. O professor de Educação Física. Mas, isso não ocorre do fato suspeito de quase todo garoto gostar das aulas de Educação Física. O que acontece é que ele, o professor que nós chamávamos, sorrateiramente, de “Espigão” (que de fato ele se assemelhava a uma espiga de milho gigante)- esse mestre me deixava frequentar os treinos dos garotos mais velhos, e me escolheu – pelos meus méritos futebolísticos é claro – dentre sete garotos de toda a escola, para representá-la num torneio intermunicipal, no qual terminamos em terceiro lugar dentre trinta municípios da cidade de São Paulo. Ora, esse mestre era querido por todos. Não lembro se quer de um grito que ele teria dado, também não me lembro de nenhum outro mestre gritando nessa escola. Mas o “Espigão” era muito complacente conosco. Paciente e correto. Profissional e amigo. Só para ilustrar o caso, lembro-me que o professor “Espigão” passou a nos ensinar os fundamentos do basquetebol, embora fôssemos fissurados por futebol, todos se dedicaram muito para tentar aumentar de altura um pouquinho( esse era o principal argumento do professor nos diálogos informais). Uns dos nossos colegas, porém- uns dos melhores aliás-, estava com um problema familiar, do qual alguns de nós sabíamos rasteiramente, pois morávamos perto da casa dele e os vizinhos comentavam. Parecia ser algo delicado e sério. Dessa forma, nosso amigo já havia faltado muito aos treinos , assim, o“Espigão” percebendo tal fato, nos perguntou sobre o motivo daquelas ausências. Falamos mais ou menos as mesmas coisas, o pouco que sabíamos. “Espigão”, noutro dia , estava dentro da casa do nosso amigo conversando com seus pais, nunca ficamos sabendo bem o que se deu, nem como rolou a conversa, mas no treino seguinte e todos os outros foram diferentes, pois o nosso amigo jamais voltou a faltar. Dessa primeira fase, o pouco que me lembro é isso. Um professor amigo. E talvez os outros de sala também os fosse, mas não me causaram nenhum afeto significante.
Na segunda fase, o mundo foi mais complicado. Estávamos num lugar terrível. Onde moro até hoje: na periferia de Guarulhos, mais especificamente, bairro dos Pimentas. Naquela época, aqui era terra de ninguém( e alguns lugares hoje ainda o são). Não dava para educar aqui, sem ser conformista nem fatalista, ora, se deparar com corpos cheios de tiros quase todas as manhãs dos finais de semana não é fácil para um menino que nunca vira isso, que nunca vira a morte. Lembro-me que na escola essa história de bullying já era muito presente, diferente, portanto, das escolas da primeira fase, nestas ninguém ficava se agredindo física nem psicologicamente, mas, quando passei a estudar nas escolas dos Pimentas, sofri muitas vezes com isso, tantas, que frequentemente tinha que correr na saída da escola para não apanhar, mas, nunca soube bem os motivos.
O que fiz? Passei a ser perigoso também. Indisciplinado, inquieto, violento. Era a expressão mais valorosa daquele lugar,e, infelizmente, o é em muitos lugares até hoje. Dessa fase, os professores(as) vêm na minha memória como seres involuntários. Faziam o que podiam, mas quase não podiam nada. Lembro-me de um caso quando eu estava na 5º série. Havia uma professora chamada Carmelita de Português, um amigo meu e eu, depois do segundo semestre, quase não assistíamos as aulas dela, pois Carmelita, sabiamente, não queria nossa impertinente presença. Não sabíamos o nosso lugar, não tínhamos discernimento para tanto, mas precisávamos ser corrigidos urgentemente. Ela preferia não arriscar em chamar nossos pais, mas ela não sabia que, se o fizesse, aquilo teria um fim. Não o fez. No entanto, algo mudou. Nova mudança estava por vir na minha família. Minha mãe odiava os Pimentas e decidiu que iríamos voltar para Vila Formosa, assim que todos terminassem bem o ano escolar (uma recuperação atrasaria pelos menos um mês nossos planos); daí resolvi me corrigir para passar de ano. Veja eu não tinha discernimento, mas podia entender as coisas, e elas apontavam-me o meu futuro. Assim aconteceu, voltamos, fui feliz mais dois anos, depois retornamos de novo, dessa vez sem volta. Sem alegrias.
Dos professores(as) dessa fase última, lembro-me burocraticamente. Nada que os desabone, também nada a acrescentar. Faziam seu papel e eu, já adolescente e trabalhando, fazia o meu. Nunca pude idealizar nenhum professor(a), pois nunca pensei em ser um. Nem sempre as pessoas que são professores(as) tiveram uma lousa em casa e brincavam de dar aulas. Minhas brincadeiras sempre foram de criança mesmo.
Hoje, vejo a profissão docente como algo diferenciado em sua prática, mas não tive espelhos. Jamais seria um “Espigão” e bem menos uma Carmelita. Os dois foram importantes, mas o mundo hoje é outro. Nunca idealizei atleta, nem ator, sem artista nenhum, porque idealizaria um professor(a)? Mas, como docente a sete anos, posso afirmar: o educador em sua prática, não pode viver de passado, não pode questionar o futuro do qual ela não consegue enxergar, mas pode atuar no presente. A tarefa não é fácil, mas, caminhemos!

Anderson Ferreira

poeta, professor e músico


sexta-feira, 28 de maio de 2010

As setes caras do Doutor Anderson

Mais uma vez tiraram meu sangue, só porque não me mostrei resignado em ser assaltado num colégio que trabalhei. Não sei, às vezes penso na história do micropoder. Tem gente que pretende dominar um mundo, só porque tem uma escolinnha de bosta, e vive lavando dinheiro com ela. O professor, ora o professor! O professor fica aí com os seus desenganos.
-Meus caros alunos, abram os olhos de seus pais, não paguem escolas em que as ofertas são muitos tentadoras, porque no fim...é liquidação.
É o que venho falando há anos.
Um outro lá, só quer ganhar dinheiro, e critica o Estado. diz que a educação no Estado é isso, é aquilo. Não é uma beleza, mas pelo menos vigora o princípio do desinteresse e menos da hipocrisia. Trabalhei numa escola particular em que o princípio é fazer média pros pais, vê se pode. -Pais abram o olho, seus filhos estão sendo surrupiados, vão virar um bando de alienados como muita gente por aí.
Tenho sete caras, mas já esgotei todas.
A Primeira é quando começo no exercício( tolo); a segunda é quando falo com a coordenação(fingido); a terceira é quando falo com os pais( preocupado); a quarta é quando falo com os colegas de profissão( indignado) a quinta é quando falo com os alunos(sincero e enfático); a sexta é quando falo com minha família(desmotivado)e, finalmente, a última é quando falo com a direção(demitido). É isso, eu não presto!!! Até.

Anderson Ferreira